terça-feira, 28 de outubro de 2008

Roberto Cantuzio - Relatos de voos de XC

Era Outubro de 1995, durante o período Jurássico, numa boa temporada de vôos em finais de semana (nossa equipe somente ia bem nas temporadas que coincidiam dias bons de vôos nos weekends) do nosso torneio de X-Country (Androids vs. St.Peter Hawks) por equipes.
Outubro, costuma ser o melhor mês para vôo no estado de São Paulo, a maioria dos meus melhores XC, foram nesse mês. Setembro é mais seco, mas os dias ainda não são tão longos, e Novembro já começa ser muito úmido, com chuvas e núvens mais baixas.
Parece incrível, mas foi um dos vôos de XC mais fáceis que já fiz, e por isso que arrependo-me de não ter ido mais longe. Duas semanas antes havia pousado em Jarinu (170Km), também vindo de Torrinha, e uma semana antes em Novo Horizonte, saindo de S.Pedro-rampa Leste(181km).
Primeiramente, as térmicas estavam fortes e grandes(dos tipos que "não se vê apenas, folhas de cana voando ao nosso lado, mas os carrinhos de garapa também, hé, hé, hé..."), e o vento era bem mais forte nas camadas mais altas. Lembro-me que com apenas 5 termais( e uma hora e meia de vôo) já estava na Serra da Cantareira entre São Paulo e Mairiporã, sobre o túnel da Fernão Dias, com 3.800 m acima do nível do
mar, comemorando o novo récorde Paulista, que era do nosso falecido amigo Wellington(185km), batido um ano antes, quando pousou em Jundiaí. Aí pintou aquela dúvida, jogar
duro com os Boeings e seguir na base da cloud street sobre Sampa, ou tocar para Atibaia num través de quase 90 graus e ainda por cima com a Pedra Grande já sombreada. O medo de provocar um acidente de grandes proporções falou mais alto.
Se eu tivesse uns dez anos a menos certamente não pensaria duas vezes. Já havia sobrevoado a praça da Sé, o Playcenter, já tinha pousado em terrenos baldios na Zona Leste e Norte dentro de S.Paulo, em Sto. André, Guarulhos, etc., que certamente teria corrido o risco(idiota!). Lembro-me que fiquei morrendo de inveja, quando o Formiga pousou dentro do Parque do Ibirapuera, e a Marina Bandeira(hoje, Amyr Klink),
que eu namorava, e que morava e estava ali perto, ainda por cima, fez o resgate dele! Acho essa a maior loucura que já vi alguém fazer no "vôo livre", e se dar bem! O Rich Pfeiffer, pousou no Rose Bowl(equivalente ao Maracanã)dentro de Los Angeles, na final do super-liga de futebol americano, parou o jogo e foi preso, mas eu não estava lá, e Los Angeles praticamente só tem prédios no centro. Já o Formiga "quase pegou uma cueca nova no varal do apto dele sobre o túnel da Nove de Julho", é mole!?!
Voltando ao meu vôo, acabei optando por seguir para Atibaia, peguei uma sombra gigante de stratus e cheguei abaixo da Pedra. O Roger e o Marquinhos da Dust Devil, estavam formando uns alunos e não acreditaram quando me viram, principalmente pelo fato de eu estar vindo no sentido de Mairiporã. Ganhei no lift e fiquei ali, mais que o tempo que havia levado para chegar de Torrinha até ali(2horas), esperando as condições melhorarem. O Máximo que consegui, foi ganhar 400m acima da Pedra e tocar de caudal até um sítio em Nazaré Paulista(198,4 km), novo récorde Paulista, que durou pouco mais de um ano.
Se eu tivesse simplesmente continuado na base da cloud street, com a altura que eu estava, no horário que eu estava, na direção do vento, se não batesse em nenhum avião
certamente teria pousado na praia. Esse é o vôo que ainda quero ver alguém fazer, Torrinha - Praia, se possível Caraguatatuba.
Abraço a todos.
Eu aindo volto!
Kents

Um comentário:

Marcelo disse...

Wow, que legal! É sempre bom ouvir falar dos velhos e grandes amigos. Excelente relato. Salve Cantuzio...