terça-feira, 28 de outubro de 2008

Marcelo Ferro - Relatos de voos de XC

No sábado (25/10/08) à tarde o Joca me ligou fazendo o convite para irmos voar em Torrinha no dia seguinte. Como a previsão era de vento noroeste forte, e eu estava mesmo a fim de fazer um longo vôo de cross, aceitei o convite. Partimos logo cedo, Joca, eu e o Ricardo Gaucho em direção a São Pedro para capturar o César Arede que seria o nosso resgate.
Passando Campinas o vento não estava como gostaríamos, vinha de nordeste e o céu estava com uma fina camada de nuvens muito altas que não permitiam que o sol atingisse o solo com toda sua potência. Fizemos um pequeno briefing para decidirmos o que faríamos dali para frente, seguiríamos como planejado ou rumaríamos para Andradas. A decisão foi tomada rapidamente e seguimos o plano original ( ainda bem ! ).
Chegamos a São Pedro, pegamos o Arede e seguimos para a famosa, mas desconhecida por mim, Torrinha. Chegando lá, algumas asas já estavam montadas e sem perder tempo fomos logo preparando nossos brinquedos. O Joca com sua Atos VR, Gaucho também de Atos e eu com minha Litespeed RS 4. O céu continuava com aquela cobertura alta de nuvens, mas o calor era intenso e o noroeste já mostrava seu potencial na cara da rampa, lembrando bastante o vento que sopra nas rampas da Bahia. Com a asa já montada era nítida a melhora que estava ocorrendo no céu. Alguns cúmulos já eram avistados, mas, infelizmente não na rota do vôo. O Amarildo foi um dos primeiros a decolar e ganhou altura rapidamente. Esperei mais alguns minutos aguardando um pequeno grupo de uns quatro ou cinco cúmulos se aproximarem, e fui para a rampa. Decolei tranquilo apesar do vento forte e fui logo chupado para dentro de uma térmica fortíssima que não me deixou sequer fechar o zíper do bullet antes de me colocar bem alto, numa posição bastante confortável para um início de vôo. O Gaucho veio na cola enquanto o Joca terminava de preparar seu equipamento. Eu e o Gaucho íamos ganhando altura e derivando bastante em direção a Santa Maria, na rota escolhida, mas a visão que tínhamos era de um céu bastante “leitoso” e com formações de cúmulos muito distantes, que não daria para chegar sem antes passar pelo azul. Então fomos voando sem acelerar muito, procurando um bom LD para atravessar aquela condição, perdendo o mínimo de altura possível. O visual era fantástico, com o Rio Tietê à direita e a serra de São Pedro a nossa esquerda. Com a seta do gps apontando a direção a ser seguida Atibaia, mirei Piracicaba e fui embora. Nessas alturas eu já havia perdido contato visual com o Gaucho e o rádio dele estava uma porcaria, então segui em vôo solo mesmo. Cheguei a Piracicaba com pouca altura e já mirando alguns pousos antes da cidade. Aí me veio a cabeça que eu havia nascido ali e seria uma puta sacanagem meu vôo morrer justamente naquela cidade. Concentrei-me bastante, avistei uns urubús no meio da cidade com uns fiapos de nuvens se formando, opção única. Joguei pra lá e piriri, cisca daqui, cisca dali, derivando com o vento, deixa rolar, mas nada de achar o miolo. Pronto, já passei por cima da cidade e do outro lado é só pouso, então vou derivando, derivando..., já que estou indo na direção certa, tudo bem, deixa rolar. De repente avistei vários urubús as “dez horas” e, beleza, arredondou, fui bem alto e quando me dei conta eu já tinha Campinas no meu campo de visão. Estiquei a marcha e, fui, com o gps marcando por volta de 90 km/h de média, o vôo rendia muito e muita terra ia ficando para trás. Foi nesse momento que me veio a cabeça que, se as coisas continuassem daquele jeito, Atibaia talvez fosse possível. Mas para isso eu teria que me concentrar ainda mais e não poderia cometer nenhum erro.
Cheguei a Campinas numa situação um pouco melhor do que havia chegado a Piracicaba e usei a mesma técnica para encontrar a termal: joga pra cima da cidade, procura os urubús, paciência para ganhar a maior altura possível. Tudo como planejado, olho pro altímetro que marca 3500 metros asl. Caraca! Tô alto pacas e com esse vento me empurrando vamo que vamo ! Ainda tinha as cidades de Itatiba e Jarinú pela frente antes de Atibaia. O variômetro indicava que eu chegaria no Flamboyant com 120 metros de altura. Eu nem via Atibaia e faltavam ainda 50km mas estava no topo da termal e então resolvi prosseguir viagem, não acreditava ainda . Estico a marcha naquele ponto de melhor planeio e, usando a mesma técnica de jogar sobre as cidades para ganhar altura, vou para cima de Itatiba, mas ao contrário das outras, não bombou. O negócio então é seguir em frente. O planeio é sensacional e a velocidade em relação ao solo de 90km/h. O variômetro vai ficando cada vez mais positivo em relação ao gol, 150, 180, 200, 250 metros acima do pouso ele indica a altura de aproximação. Show ! Agora tenho certeza que chego a Atibaia, na pior das hipóteses, pouso no aeroporto que fica uns 5km antes do pouso oficial. Também tem cerveja gelada ! Deixo o aeroporto para trás, passo por cima do pouso às 15:52hs com 3:21 hs de vôo desde a decolagem. Avisto uns urubús no forninho e, não custa nada, vamos tentar ganhar a Pedra Grande e passar sobre a decolagem. Missão cumprida, deu até para esticar um pouco o vôo jogando para trás da decolagem antes de ir pousar com a galera. Pouso perfeito com todos os amigos por ali. Agora é comemorar e aguardar o Joca que pousou em Piracicaba, levou o Cesar Arede pé quente de volta pra casa em São Pedro e ainda iria resgatar o Gaucho que havia pousado em Hortolândia. O planeio final foi incrível e não me sai da cabeça: 49,41 km de distância, Ld de 23,14/1 a 89km/h com afundamento de 1,1m/s. 189 km voados.
Obrigado a toda equipe que participou de mais esta aventura, ao Amarildo e a galera que estava em Torrinha que nos recebeu muito bem dando todo apoio e altas dicas do vôo.

Marcelo Ferro
Moyes Litespeed RS 4

Um comentário:

Fabiano disse...

Que vôozaço Ferro! Parabéns pelo vôo e pelo relato, essa RS/4 tá voando demais na tirada hein! Show de bola! Abs, Fabiano.